O câncer de colo uterino é o terceiro mais frequente e o quarto em mortalidade por câncer em mulheres no Brasil (sem considerar tumores de pele não melanoma). Dentre as modalidades de prevenção do câncer de colo uterino, temos o exame preventivo, o Papanicolau, que deve ser realizado em mulheres de 25-65 anos que tem como objetivo detectar lesões de alto risco que podem lentamente se tornar um câncer, e desta forma, tratar de forma precoce. Além do Papanicolau, a vacina contra o HPV é uma das intervenções mais efetivas para prevenção do câncer de colo uterino e suas lesões precursoras. As vacinas disponíveis no mundo são, bivalente (contra os tipos HPV 16 e 18), quadrivalente (contra os tipos 6, 11, 16 e 18) e a nonavalente (contra os tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52, e 58).
Segundo o Center for Disease Controland Prevention, o CDC, a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) é a infecção sexualmente transmissível (IST) mais prevalente no mundo, resultando em cerca de 14 milhões de indivíduos infectados anualmente. Estima-se que 80% de pessoas sexualmente ativas serão infetadas pelo HPV no decorrer da vida, o que acontece é que nem todo mundo desenvolve lesões decorrentes dos vírus.
O HPV é um vírus de DNA da família dos Papilomavírus com mais de 170 tipos identificados e para cada um deles é atribuído um número. O HPV é a causa de 99,8% dos casos de câncer de colo uterino, sendo o HPV 16 e HPV 18 responsáveis por cerca de 70% dos casos. Além disso outros 6 tipos de câncer podem ser causados por esse vírus, como o câncer de vulva (40%), vagina (60%), cabeça e pescoço (25-35%), canal anal (80-90%), pênis (40-50%). O HPV também é a causa das verrugas genitais.
No Brasil, a vacinação contra o HPV foi incorporada ao Programa Nacional de Imunização (PNI) em 2014 com a aplicação da vacina quadrivalente. Atualmente a vacina é disponível pelo SUS para meninas e meninos de 9-14 anos e imunossuprimidos (pessoas com HIV, câncer e transplantados) do sexo feminino e masculino até os 45 anos. A vacinação antes da iniciação sexual é aconselhável para garantir proteção antes da exposição aos diferentes tipos de HPV, mas existem evidências que mesmo após inicio da atividade sexual a vacina tem benefícios, podendo se feita até os 45 anos na rede privada.
Apesar de comprovada eficácia e segurança da vacina, segundo dados do PNI esta tem uma adesão abaixo da esperada. No estado do Paraná, a cobertura vacinal contra o HPV gira em torno de 62,5% em meninas e 46,10% em meninos. As barreiras para a vacinação do contra o HPV são multifatoriais, infelizmente o desconhecimento sobre a doença ainda é muito grande em nosso país. Há também um preconceito relacionando a vacina ao início da atividade sexual. Além disso, enfrentamos um período de questionamento geral sobre segurança vacinal. Após esses anos todos de uso da vacina, os dados de segurança obtidos pelos sistemas de vigilância dos países que a introduziram nos seus programas mostram que a vacina contra HPV é segura e 100% eficaz para os subtipos virais presentes na vacina.
A faixa etária escolhida para disponibilidade pelo SUS é por dois motivos. Primeiro, a vacina é mais efetiva naqueles que ainda não tiveram contato sexual e não foram expostos ao HPV. Segundo, porque é nessa idade que o sistema imunológico apresenta melhor resposta à esta vacina. Ao darem a vacina, os pais não estão abrindo a porta para o inicio da atividade sexual, mas sim fechando a porta para o câncer!
Precisamos nos informar e superar alguns preconceitos; A vacina contra o HPV pode salvar vidas.
Dra. Thais Dvulatk Marques
Médica Oncologista Cirúrgica do Complexo ISPON
CRM-PR 32757 | RQE 24971 | RQE 24972