A próstata é uma glândula, localizada na parte baixa do abdômen. Possui o tamanho de uma noz, a forma de uma maça, encontra-se situada abaixo da bexiga e à frente do reto, na parte final do intestino grosso. A próstata envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada e produz parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozóides que são liberados durante o ato sexual.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. É considerado um câncer da terceira idade, cerca de 75% dos casos relatados no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), a partir dos 60 anos as chances de desenvolver um câncer aumentam progressivamente e um idoso tem 11 vezes mais possibilidades de desenvolver a doença em comparação com um jovem.
O CA de próstata é uma doença de evolução lenta e assintomática, na maioria dos casos, além de se tratar de uma doença totalmente tratável quando surge cedo, cerca de 90% dos casos. Para tanto, é necessária a realização de exames preventivos, como o PSA (antígeno prostático específico) e o exame de toque retal.
O câncer é uma doença transmitida por preconceitos e estigmas, a doença ainda é vista como uma sentença de morte e está ligada à dor, sofrimento e mutilações físicas e psíquicas. Quando nos referimos ao câncer de próstata precisamos considerar os estigmas sociais e preconceitos relacionados à sexualidade masculina: risco de incontinência urinária, disfunção erétil e perda da libido, seja de forma transitória ou permanente. As normas de gênero e a representação da masculinidade, que são fundamentais na formação da identidade masculina, acabam direta ou indiretamente, influenciando na forma como os homens se relacionam com sua saúde, na busca pelo acompanhamento preventivo e principalmente pela resistência em se submetido a exames, como o de toque retal. Essa questão cultural pode dificultar e até mesmo impedir que uma doença seja causada de forma precoce.
O diagnóstico de câncer de próstata gera medo e insegurança, ameaçando a autoestima dos homens, fragilizando-os, podendo levá-los à depressão. Em muitos casos, durante e/ou após o tratamento será necessária a construção de uma nova forma de funcionamento sexual, diferente daquela tradicional e culturalmente aprendida. É fundamental que os pacientes e seus companheiros(as) acreditem na possibilidade real de vivenciar novas maneiras de se relacionar sexualmente, que possam ser satisfatórias.
Durante o tratamento o paciente pode apresentar efeitos colaterais pós-quimioterapia, que causam grande impacto físico e emocional. Nesse contexto o homem pode apresentar mecanismos de defesa da forma inconsciente e desenvolver comportamentos agressivos e infantilizados. Essas alterações de humor e comportamento podem fragilizar seu núcleo familiar e por esse motivo e necessário que uma família também busque por apoio profissional especializado, além de exercitar a paciência e a empatia, levando em consideração o momento de fragilidade que estão vivenciando.
Para o Ministério da Saúde, a conscientização sobre o CA de próstata através de campanhas como as que ocorrem no mês de novembro conhecido como Novembro Azul são excelentes estratégias que favorecem a aquisição de conhecimento sobre a doença e seus sintomas, a importância de um diagnóstico precoce e a diminuição dos preconceitos relacionados aos exames, em especial o exame de toque que é comumente alvo de piadas feitas por puro desconhecimento e desinformação.
O auxílio ao paciente deve proporcionar a possibilidade de refletir, identificar, compartilhar, elaborar e desenvolver mecanismos de enfrentamento necessários nesse novo momento de sua vida.
A psicoterapia proporciona acolhimento, suporte e espaço para que o indivíduo acometido pela enfermidade e seus familiares possam processar e expressar seus medos, angústias e fantasias em relação ao diagnóstico. Pessoas que recebem apoio psicológico adequado, que privilegiam a expressão livre de suas preocupações e emoções, apresentam maiores condições de gerenciamento de conflitos que permeiam essa fase importante.
Cuidar da saúde mental é de suma importância, melhora na qualidade de vida, diminuição dos índices de ansiedade e depressão e está diretamente relacionado ao sucesso do tratamento.
Por Fernanda Miranda dos Santos
Psicóloga Clínica e Oncológica
CRP: 08/32072